sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um filme sobre o afeto

Belmonte estreia em Brasília seu quarto longa, o premiado Se Nada Mais Der Certo















Marlon Maciel
Especial para o Jornal de Brasília


"O público se interessa por bons atores". A frase do montador Frederico Ribeincher é citada pelo cineasta José Eduardo Belmonte para confirmar um dos critérios levados em consideração pela equipe de Se Nada Mais Der Certo (2008) para a escolha dos atores que compõem o elenco de seu nono filme, quarto em longa-metragem, que estreia hoje na cidade. Como pode ser constatado em produções anteriores, como A Concepção (2005) e Meu Mundo em Perigo (2007), o elenco é uma das forças motrizes do cinema de Belmonte.

Com Cauã Reymond (melhor ator no 19ª Cine Ceará), João Miguel (Estômago, 2007), Luiza Mariani e Caroline Abras (melhor atriz no Festival do Cinema Brasileiro de Paris e no último Festival do Rio), Se Nada Mais Der Certo conta a história de quatro jovens que se unem para dar um golpe.

Apesar das diferentes formações dos nomes cotados, Belmonte afirma que nunca trabalhou com um elenco "tão bom e bem entrosado"; e analisa que o resultado final ficou "orgânico". "São atores que não estão para o cacife de um filme de baixo orçamento", declara o diretor que tem dois atores do elenco principal (Reymond e Miguel) como produtores associados do longa.

Em entrevista no 19ª Cine Ceará, no início do mês, o produtor do filme Ronaldo d’Oxum (que há quatro anos produz filmes com Belmonte, desde Meu Mundo em Perigo), contou que, apesar das dificuldades em função do baixo orçamento, conseguiram realizar o filme "da melhor maneira", por exemplo em relação "à escolha certa" do elenco e da equipe técnica.

Belmonte relata que queria fazer um filme sobre o afeto, em "diálogo honesto" com o que viu e conviveu. "Quis transformar tudo isso numa narrativa atraente sobre pessoas que estão à margem, que estão na fronteira, mas que podem atravessá-la", esclarece.

O mote para a construção do roteiro do longa (que acumula prêmios de melhor filme em festivais no Rio de Janeiro, Ceará e Paris) surgiu de situações por quais passou e presenciou. "A arte é uma construção, uma abstração. Não é a vida. A vida real é muito chata e já disseram que ela como é não daria um bom filme", observa o cineasta.

Para ele, Se Nada Mais... e A Concepção compartilham referências e "dialogam muito", por exemplo, em relação à temática dos dramas da sociedade brasileira urbana. "Enquanto Concepção é mais clipe, Se Nada Mais... tem uma dramaturgia mais clássica. Mas os dois retratam pessoas de classe média que estão à margem e tentam se achar no sistema".

Honestidade
Sobre uma crítica publicada na imprensa que sugeriu que o diretor preferiu o risco de incomodar o público com seu longa mais recente, e perguntado se é uma preocupação se fazer entender pela plateia, Belmonte respondeu que não busca agressão com seu cinema. "Quem busca agredir é Cláudio Assis (Amarelo Manga, 2003, e Baixio das Bestas, 2007)", brinca.

Os filmes de Belmonte, segundo sua própria perspectiva, buscam ser honestos. O diretor afirma que não vai "maquiar o que não é" e resume tal honestidade em relação ao público e a si mesmo na ideia de "não corromper ou ser corrompido". "Quero que (meus filmes) nasçam do que eu e os atores queremos contar".

É óbvio para o cineasta que suas produções procuram estabelecer um diálogo com o público. "Não acho bacana filme muito hermético ou autista", ilustra. Entretanto, Belmonte aponta um "grave problema" de distribuição nacional dos filmes que afasta o público (em Brasília, o filme está em cartaz apenas no Cine Academia 2).

Sobre a estreia de Se Nada Mais Der Certo na cidade onde mora, Belmonte diz que "queria muito que o longa fosse visto aqui e causasse interesse". E lamenta o fato de a capital do País ter sido uma das piores praças para produções suas como A Concepção, com menor público e faturamento em relação a São Paulo e Goiânia, por exemplo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Outras faces de Cora

Nos 120 anos de seu nascimento, biografias reconstituem algumas das "histórias reais" da poetisa goiana

Marlon Maciel
Especial para o Jornal de Brasília


Alguns dos mitos e mistérios a respeito da personalidade por trás do pseudônimo da poetisa goiana Cora Coralina (1889–1985) não foram totalmente esclarecidos. Mas parte deles ganham novas visões na ocasião de seus 120 anos de nascimento, completados hoje e comemorados no festival Cora Viva Coralina, aberto ontem na Cidade de Goiás, sua terra natal localizada a 320 km de Brasília.

As biografias existentes sobre a mulher que se tornou uma das principais personagens da história do Estado de Goiás parecem não dar conta do retrato fiel de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nome de batismo de Cora. No entanto, uma série de lançamentos literários buscam lançar luz sobre vida e obra de Coralina e deixar esse panorama menos obscuro – já que, até em seu estado de origem, boa parte do público não conhecia toda sua história.

Um deles é Cora Coralina: Raízes de Aninha (Ideias & Letras), fotobiografia lançada no Museu Casa de Cora Coralina, que passa atualmente por reforma e atualização literária. Por meio de documentos e fatos reais, os autores Clovis Britto e Rita Elisa Seda procuraram reconstituir a vida da menina, moça, dona de casa, mãe, sertaneja, cozinheira, literata e doceira (atributo que ela dizia valorizar mais que o de poetisa). "Na verdade, a sua biografia está sendo escrita agora", diz a presidente da Associação Casa de Cora Coralina, Marlene Vellasco.

Em versos como "Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios / Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada / E fecundada no ventre escuro da terra", do poema A Gleba Me Transfigura, constata-se o teor autobiográfico da criação coralineana. Ao estudar a fundo com Rita Elisa o vasto material, Britto conta que descobriu mais sobre a personalidade da artista pelas "meias confissões" de Coralina ao longo de sua obra, a partir das quais revelaram "as outras metades".

"Ela morou a maior parte do tempo aqui, na antiga Vila Boa de Goiás. E em cada cidade que morou, deixou marcas e ações de muitas dessas outras Coras, como a ambientalista, a política (que subiu em palanque para discursar) e a social (que fundou instituição filantrópica)", argumenta. Entre os volumes existentes, que buscam reconstituir o
passado de Coralina, Britto cita Cora Coragem Cora Poesia, escrita pela filha Vicência Bretãs Tahan (que lança, em breve, um livro-tributo com receitas), com uma biografia
romenceada – "sem determinada preocupação documental e que não pretende ser a verdade", segundo Britto.

Fascinante e mitológica
Paulo Sales, um dos netos que mais conviveu com Coralina, conta que conheceu a avó quando menino, nas visitas que ela fazia a São Paulo para ver a família. Entre as principais lembranças da infância estão as conversas nas quais trocavam ideias, inclusive sobre poesia. "A Cora que vai sair dessa biografia – cujo trabalho de pesquisa profundo se utiliza de documentos que estavam adormecidos – é muito mais rica e fascinante do que imaginávamos. Não se trata daquela velhinha que começou a publicar depois da terceira idade. Aos 17 anos, por exemplo, ela publicava e, alguns anos mais velha, era considerada uma das maiores escritoras goianas", comenta.

O segundo lançamento memorial a Cora, Moinho do Tempo – Estudo Sobre a Obra de Cora Coralina, dos organizadores Clovis Britto, Maria Eugênia Curado e Marlene Vellasco, é um trabalho sobre a vida e a trajetória da poetisa, descendente de bandeirantes. "Ao resgatar outras Coras, a publicação busca suprir uma lacuna existente entre a poetisa e a doceira, ao seguir um novo viés, que traz a interpretação da Cora mitológica", afirma Britto.

Quem foi Cora Coralina?


"Uma mulher muito à frente de seu tempo. Sua trajetória contempla a história de Goiás e do País em torno das mulheres brasileiras, tanto das interioranas como as das capitais. Cora sintetiza coragem. Sua obra não é previsível. Pode-se pensar que vai encontrar queixumes de uma senhora, mas sua obra é forte, crítica, irônica" Clovis Britto, organizador bibliográfico

"Uma pessoa de todas as épocas e lugares, cuja mensagem não tem data marcada. Ela fala do passado, do presente e do futuro. Ultrapassa limites de espaço e tempo" – Paulo Salles, neto

Teatro brasiliense presta seu tributo

A série de ações de resgate em torno do festival que comemora 120 anos da poetisa Cora Coralina incluem apresentações musicais, espetáculos teatrais, recitais, oficinas e roteiro gastronômico com pratos dedicados a ela. Nas artes cênicas, duas trupes de Brasília estão na Cidade de Goiás, onde prestam seu respeito à obra da desbravadora goiana.

Adaptadação do livro Os Meninos Verdes, a peça infantil homônima da Cia Voar de Teatro de Bonecos reflete sobre a aceitação do desconhecido, ao contar a história de
duas plantas que geram pequenas criaturas verdes. A segunda homenagem
brasiliense, Flor de Beco, do grupo Teatro do Inconsciente, tem inspiração nos poemas e contos de Cora e Monteiro Lobato, que retrataram situações e personagens típicos do interior do Brasil.

Além do festival na Cidade de Goiás, que tem entre os destaques um show do cantor e compositor Zeca Baleiro, autor de Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina, em reverência a Coralina, está na agenda das homenagens aos 120 anos a exposição
Cora Coralina Coração do Brasil, a ser aberta no dia 28 de setembro, no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, para onde Cora migrou
após deixar Goiás, em 1911.

A presidente da Associação Casa de Cora Coralina, Marlene Vellasco, chama a atenção para o incentivo à leitura a partir da exposição abrigada pelo museu. "Cora estudou até a 3ª série e teve uma professora. Foi através da leitura que conseguiu publicar seus livros", acrescenta.

Os eventos em comemoração aos 120 anos de nascimento da poetisa e doceira podem ser vistos como forma de valorizar a identidade do povo goiano, a partir do resgate da
vida e obra de um de seus maiores ícones histórico-culturais. "Esse é o primeiro passo para resgatar a história de vida de outros escritores, não tão celebrados, e que possuem muitos aspectos não conhecidos pelo grande público", observa o organizador biográfico Clovis Britto.

Reconstituição
Segundo Vellasco, a filha Vicência Bretas e o neto Paulo Salles tiveram papel fundamental na disponibilização pública do material reunido a partir de acervos pessoais – caso das certidões de nascimento e de casamento, que estão entre o material inédito. "Abrimos o baú junto à família de Cora", explica a presidente.

Vellasco conta também que Coralina, uma mulher forjada pela dureza da vida, chegava a receber turistas em sua Casa Velha da Ponte, às margens do Rio Vermelho, mas que não gostava que dirigissem a ela certos tipos de perguntas consideradas não pertinentes (um dos motivos de ser relacionada por alguns à imagem de uma senhora "sem educação"). "Na verdade, era uma mulher que tinha um temperamento forte. Era muito decidida. Teve uma vida difícil. Era muito realista", conta a presidente que, por volta de seus cinco anos de idade, estabeleceu contato pessoal com a doceira que gostava, em particular, de jovens e crianças, sobre os quais dizia passarem para si uma energia positiva.

A presidente garante que as pessoas que visitam diariamente o Museu Casa de Cora Coralina sabem quem ela foi e procuram conhecer a fundo sua obra. "É emocionante acompanhar as pessoas que chegam à casa. De crianças a idosos, muitos chegam aqui para visitar ‘a casa da Cora’ – e sabem quem ela é. A maioria compra livros depois", conta.



Ela revela que algumas pessoas choram "e se realizam" dentro da casa, tomadas pelo sentimento de desprendimento que o ambiente pobre e suas ricas poesias inspiram. E avisa aos que não conhecem o lugar rústico e imaginam encontrar lá um imponente museu: "A riqueza da casa está na literatura, na poesia. A grandiosidade do museu está na simplicidade, na xícara quebrada, no pratinho no qual ela comia".

Para Clovis Britto, colaborador das duas publicações recentes, que também participa como palestrante da mesa-redonda "Dentro e Fora de Cora – A Natureza em Coralina, amanhã, a atualidade da obra da goiana reside no fato de Coralina reescrever a história oficial a partir da poesia, segundo ângulos como o marginal (se identificava com crianças abandonadas e prostitutas, por exemplo) ou o da juventude (ao se perguntar, por exemplo: "Será que sou velha?"). "Seu trabalho é muito atual também quando fala da importância do novo, das novas ideias. Por trás de suas metáforas, Cora Coralina nos traz ensinamentos", salienta.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Esquenta Porão do Rock





As seletivas do Porão do Rock acontecem nesse próximo fim de semana(15 e 16 de agosto)na Torre de TV. Serão 16 bandas que se apresentarão nos dois dias disputando quatro vagas para o festival que será realizado nesse ano, de 18 a 20 de setembro. Algumas bandas farão participações especiais na abertura e encerramento do evento como Autoramas (RJ), Raimundos (DF), Ratos de Porão (SP). Os shows começam ás 19h no sábado e às 18h no domingo. A entrada é franca.


Bandas concorrentes:
Blazing Dog, Bootlegs, Cassino Supernova, Dias de Um Futuro Esquecido, Gonorants, Hellena, High High Suicides, Kanela Seka, Misty Mountain, Mostarja, Na Lata, Ranka, Rhevange, River Phoenix, Soatá e Terno Elétrico.

Participações especiais: Autoramas (RJ) e Raimundos (DF) (no sábado), Ratos de Porão (SP) e Krisiun (RS) (domingo).

domingo, 9 de agosto de 2009

De volta aos 80`s

Nessa última quarta-feira faleceu John Hughes, um dos cineastas norte-americanos mais conhecidos dos anos 80. Você pode até não lembrar dele de nome, mas com certeza todos nós já assistimos algumas de suas obras. O diretor de filmes vespertinos, como “Curtindo a vida adoidado” que justificava qualquer falta no colégio e “Garota de rosa-choque” com a talentosa Molly Ringwald e o carismático (e lindo) Andrew McCarthy, jamais será esquecido. Hughes e seus filmes high school serão relembrados por toda uma geração.

Para não deixar em branco a data, compartilho o trailler de um dos meus filmes favoritos do diretor e escritor."O Clube dos Cinco" é uma das poucas histórias que consegue mostrar quase que fielmente o que é ser jovem e as barreiras enfrentadas para se encaixar (ou não) em um grupo, e que ser adolescente, é difícil em qualquer época.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cultura de Violência e sensacionalismo no Profissão Repórter

Por Vinícius Borba

Profissão Repórter faz reportagem sensacionalista sobre violência em São Sebastião

No dia 28 de julho, terça-feira, foi ao ar mais uma edição do programa Profissão Repórter, da Rede Globo. Neste “episódio”, o tema era a violência de gangues na periferia de Brasília. E para tristeza da comunidade, a cidade foi retratada como um “Faroeste Caboclo”, além da citação de “Cidade Mais Violenta do DF”, com base em dados da Polícia Civil. “De toda forma, mesmo que a informação não esteja incorreta, a reportagem tem que atender a um princípio de pluralidade”, diz o professor do Departamento de jornalismo da Univeridade de Brasília(UnB), Luiz Martins.

Mostrarem as dificuldades e problemas da localidade não seria problema se os jornalistas tivessem também publicado os movimentos de cultura de paz aqui existentes. Não, não. O importante e destacado mesmo foram as marcas de bala nas paredes e relatos pobres de jovens marginais querendo aparecer na TV. O Tribuna de São Sebastião entrevistou um dos jovens que aparecem na reportagem para saber como foi a abordagem dos globais. E descobrimos o que eles realmente estavam atrás em São Sebastião. Eles queriam sangue!

Sarau dentro da escola. A equipe do Profissão esteve lá, mas nem comentou








Foto Vinícius Borba





Onde ficou a cultura de paz?
O programa é chefiado por Caco Barcelos, jornalista famoso no país. A equipe que veio era composta por Felipe Gutierrez e Caroline Kleinübing.Eles estiveram em visita ao Centro Educacional(CED) São Francisco, onde entrevistaram personagens como a Diretora Leisa Sasso e alguns estudantes. Apesar de serem formados, os repórteres não conseguiram, durante todo o dia algum relato mais contundente, mostrando a violência ou algum envolvimento dos alunos. Naquele dia, 10 de julho, estavam sendo encerradas as aulas no prédio provisório do CED São Francisco. A escola inteira seria logo transferida para o novo prédio construído no bairro de mesmo nome da escola. Naquele exato dia os alunos estavam se despedindo da escola. E fizeram para tanto um grande Festival Cultural, com circo, sapateado e muita arte. Mas o Profissão Repórter não publicou nada sobre a arte ali apresentada. Pelo contrário. Isolou dois alunos de sapateado num canto -- enquanto o sarau rolava atrás deles -- e começou um interrogatório duro e seco. Só se mostrou a cultura de violência. A cultura de paz foi jogada ao vento.

O interrogatório

“Eles perguntaram como era minha atuação em gangues, só por que eu moro na quadra 202. Foi constrangedor. Queria falar sobre os projetos da escola. Mas eles retomavam a discussão sobre violência. Eles são péssimos. Deviam voltar para a faculdade”, disse Gleiton Soares, 20 anos, aluno do CED São Francisco. Ele também alega que os repórteres induziam constantemente as respostas dele e dos outros entrevistados. Segundo Gleiton, de tudo que eles disseram sobre paz e cultura dos jovens da cidade, o Profissão só publicou os pequenos trechos sobre gangues, ignorando o outro lado da questão.

A diretora, Leisa Sasso, diz ser frustrante uma equipe de reportagem passar dois dias dentro de uma escola com projetos diferentes para envolver os alunos longe da violência, não mostrar praticamente nada e ainda tratá-los como marginais. “É uma minoria que faz estes crimes, nós não somos esta violência. A cidade fica estigmatizada como um todo”.

Foto: Herick Murad


B-boy e palhaço, o aluno Diones também é grafiteiro.
Na matéria, sobre arte nem um ai!

Cidade toda paga o preço

Para o professor Luiz Martins, da UnB, no Brasil atualmente há, paralelo à criminalidade, outro movimento. “O que acontece no Brasil hoje é que por toda a mobilização dos movimentos sociais da sociedade civil, é que ao lado da cultura de violência existem ações de cultura de paz, e pelo que se viu no programa não foram mostradas e isto já caracteriza uma tendência, uma parcialidade”, disse o professor. São Sebastião sem nadaO programa Profissão Repórter tem um blog na internet, pelo qual seus jornalistas comentam as reportagens. Carol Kleinübing, a repórter que esteve em São Sebastião e participou do grande sarau organizado na tarde em que ela esteve lá, relata sobre a experiência de andar pela cidade, segundo ela, "de norte a sul, de leste a oeste". Afirma não ter visto nenhuma boa oportunidade para solucionar as dificuldades da comunidade. E ainda diz também ter perguntado a todas as pessoas por quem passou e entrevistou se haviam opções de lazer, cultura ou esporte, tendo tido como resposta que a cidade "Não tem nada", de todos os jovens do local.

Neste relato, ela demonstrou o quanto se equivoca e é parcial, ao pintar um "inferno" numa cidade com bons equipamentos públicos. Há alguns anos até poderíamos afirmar o que ela diz, mas hoje em dia não. A repórter andou pelo Prédio Provisório do CED São Francisco. Ele fica dentro do CAIC, no centro da cidade. Pois, em frente ao CAIC existe uma linda praça, com bancos, playground(parquinho infantil com areia) e árvores de sombra. Um local que já foi palco de saraus e shows. Que foi recentemente palco do 16º Aniversário da comunidade. Asfaltado e bem urbanizado, com calçadas e faixa de segurança. Diz ela, "Sempre achei que a primeira e mais eficiente alternativa no combate às influências ruins fosse a oferta de oportunidades boas. Reforcei minha lógica depois de conhecer São Sebastião. Andamos por todas as quadras,de norte a sul, nos extremos leste e oeste, e não encontramos praças, nem bancos, nem quadras de esporte. Também não existe cinema, nem teatro".

A estrutura inexistente ou a cegueira proposital?
Lista de equipamentos e manifestações culturais relatados em comentário à seu texto no blog do Profissão Repórter. Quem relatou foi Eduardo Nunes, músico e morador local. Com base em informações da Administração Regional de São Sebastião:

10 praçasAulas de musica para iniciantes semanal;
aulas de música para músicos semanal;
oficina permanente de circo;
01 brinquedoteca que funciona diariamente e atende 200 crianças;
Evento de rap periódico- hip hop solidário - que acontece bimestralmente;
01 fórum de entidades que reúne cerca de 40 entidades do terceiro setor que se reúne mensalmente;
Artistas premiados em teatro e música;
10 campos de futebol, sendo 04 iluminados e 01 com grama sintética de uso gratuito e mais 05 com grama sintética particulares;
02 ligas desportivas que promovem campeonatos semestrais há anos.
06 kits malhação com circuito inteligente pensado por especialista em educação física;
08 quadras de esporte;
02 ginásios de esporte;
01 Sarau que é realizado mensalmente há sete anos, com teatro, música, poesia, dança, artes plásticas, vídeos, etc.
20 Grupos de Dança;
01 evento de rock que é realizados a cada dois meses;
01 grupo de catira;
01 escola de samba;
05 quadrilhas juninas premiadas no concurso regional;
10 playgrounds de uso gratuito espalhados pela cidade;
05 campos de futebol de areia de uso gratuito espalhados pela cidade;
01 vila olímpica em fase final ( a maior do DF);
01 parque ambiental com vários equipamentos públicos em construção;


Em jornalismo é prática corrente desconfiar de informações oficiais e checá-las à exaustão a fim de confirmar um dado. Num jornalismo preguiçoso, publica-se qualquer coisa sem apuração. Nesta situação, Carol escreveu texto falando da falta de uma infra estrutura básica na cidade. Não procede.

Polícia em ação
Vale ressaltar que recentemente as polícias, civil e militar, fizeram grande a Operação Tsunami II, que prendeu quase 50 envolvidos com crimes na nossa localidade. E que nos últimos anos só há alguns períodos isolados onde ocorrem incidentes entre os grupos rivais. Não estamos no Rio de Janeiro.


Arte em segundo plano. Cultura de paz também

Caco: meu conterrâneo me decepciona
Assisti na Universidade de Brasília(UnB) uma grande palestra, num projeto chamado Diálogos Universitários. Foi em 2008 ainda, Caco Barcelos discursou sobre uma constatação de seus anos de jornalismo investigativo. Falava sobre a Cultura de Violência que aflige nossa sociedade. Na palestra, ele defendeu que há uma cultura de violência em nossa sociedade, com base em estatísticas sobre a quantidade de homicídios por armas de fogo na capital paulista. Segundo a pesquisa, somente 4% dos assassinatos à mão armada na capital da garoa são cometidos por criminosos com real envolvimento marginal. Naquele período de pesquisa exposto por Barcelos, 20% das mortes "à bala" foram responsabilidade de policiais. E concluiu dizendo que os demais 76% dos crimes desta natureza são feitos por supostos cidadãos comuns, em situações inesperadas e tal. E justifica isto como sendo a cultura de violência que impera em nosso meio social violento, mostrando também o alto índice de pessoas que aceitariam práticas de tortura contra bandidos presos para obtenção de informação. Fiquei pasmo com aquela palestra. Fiquei fã do editor chefe do Profissão depois disto.

Não esperava a edição dada à matéria sobre as gangues no DF. Vamos sobreviver. Nossa comunidade já sofreu de estigmas piores como a cidade com hantavirose, recordista de dengue e mais nviolenta do DF. E que para a projeção de meia dúzia de jornalistas fomos mais taxados ainda. A opinião pública da comunidade é diferente do que este programa refletiu e gostaríamos muito de mostrar o outro lado da moeda, a nossa cultura de paz. Já fui muito orgulhoso de saber inclusive que Caco era gaúcho. E um cara de origem simples, não sei se de favela, não sei se ele já teve o sentimento de "perifa", de pertencer a um lugar. Tomara que ele se lembre disto quando edite suas matérias sensacionais. São Sebastião não vai se esquecer.

Comecei a estudar jornalismo por causa de profissionais de classe média como estes, que falam de coisas das quais não entendem e que mesmo vendo e convivendo com as realidade de comunidades tão ricas quanto esta não conseguem transpor o sentimento de um local. Presos ao factual, pontual. Vem com uma tese fechada só para ilustrar e não constatar quais são os fatos in loco. Abram-se para se surpreender com o que encontram senhores comunicadores. Consegui bolsa de estudos por meu mérito e vou me formar. Trabalho com jornalismo comunitário e pretendo muito poder dar voz às favelas pelos nossos próprios meios. Nossa resposta será dada em voz alta e bom ton. Ninguém precisará mais pôr palavras na boca de nossos jovens ou pintar o inferno para parecer correspondente de guerra em início de carreira e se projetar. Tomara!