sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Um filme sobre o afeto

Belmonte estreia em Brasília seu quarto longa, o premiado Se Nada Mais Der Certo















Marlon Maciel
Especial para o Jornal de Brasília


"O público se interessa por bons atores". A frase do montador Frederico Ribeincher é citada pelo cineasta José Eduardo Belmonte para confirmar um dos critérios levados em consideração pela equipe de Se Nada Mais Der Certo (2008) para a escolha dos atores que compõem o elenco de seu nono filme, quarto em longa-metragem, que estreia hoje na cidade. Como pode ser constatado em produções anteriores, como A Concepção (2005) e Meu Mundo em Perigo (2007), o elenco é uma das forças motrizes do cinema de Belmonte.

Com Cauã Reymond (melhor ator no 19ª Cine Ceará), João Miguel (Estômago, 2007), Luiza Mariani e Caroline Abras (melhor atriz no Festival do Cinema Brasileiro de Paris e no último Festival do Rio), Se Nada Mais Der Certo conta a história de quatro jovens que se unem para dar um golpe.

Apesar das diferentes formações dos nomes cotados, Belmonte afirma que nunca trabalhou com um elenco "tão bom e bem entrosado"; e analisa que o resultado final ficou "orgânico". "São atores que não estão para o cacife de um filme de baixo orçamento", declara o diretor que tem dois atores do elenco principal (Reymond e Miguel) como produtores associados do longa.

Em entrevista no 19ª Cine Ceará, no início do mês, o produtor do filme Ronaldo d’Oxum (que há quatro anos produz filmes com Belmonte, desde Meu Mundo em Perigo), contou que, apesar das dificuldades em função do baixo orçamento, conseguiram realizar o filme "da melhor maneira", por exemplo em relação "à escolha certa" do elenco e da equipe técnica.

Belmonte relata que queria fazer um filme sobre o afeto, em "diálogo honesto" com o que viu e conviveu. "Quis transformar tudo isso numa narrativa atraente sobre pessoas que estão à margem, que estão na fronteira, mas que podem atravessá-la", esclarece.

O mote para a construção do roteiro do longa (que acumula prêmios de melhor filme em festivais no Rio de Janeiro, Ceará e Paris) surgiu de situações por quais passou e presenciou. "A arte é uma construção, uma abstração. Não é a vida. A vida real é muito chata e já disseram que ela como é não daria um bom filme", observa o cineasta.

Para ele, Se Nada Mais... e A Concepção compartilham referências e "dialogam muito", por exemplo, em relação à temática dos dramas da sociedade brasileira urbana. "Enquanto Concepção é mais clipe, Se Nada Mais... tem uma dramaturgia mais clássica. Mas os dois retratam pessoas de classe média que estão à margem e tentam se achar no sistema".

Honestidade
Sobre uma crítica publicada na imprensa que sugeriu que o diretor preferiu o risco de incomodar o público com seu longa mais recente, e perguntado se é uma preocupação se fazer entender pela plateia, Belmonte respondeu que não busca agressão com seu cinema. "Quem busca agredir é Cláudio Assis (Amarelo Manga, 2003, e Baixio das Bestas, 2007)", brinca.

Os filmes de Belmonte, segundo sua própria perspectiva, buscam ser honestos. O diretor afirma que não vai "maquiar o que não é" e resume tal honestidade em relação ao público e a si mesmo na ideia de "não corromper ou ser corrompido". "Quero que (meus filmes) nasçam do que eu e os atores queremos contar".

É óbvio para o cineasta que suas produções procuram estabelecer um diálogo com o público. "Não acho bacana filme muito hermético ou autista", ilustra. Entretanto, Belmonte aponta um "grave problema" de distribuição nacional dos filmes que afasta o público (em Brasília, o filme está em cartaz apenas no Cine Academia 2).

Sobre a estreia de Se Nada Mais Der Certo na cidade onde mora, Belmonte diz que "queria muito que o longa fosse visto aqui e causasse interesse". E lamenta o fato de a capital do País ter sido uma das piores praças para produções suas como A Concepção, com menor público e faturamento em relação a São Paulo e Goiânia, por exemplo.

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