quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Outras faces de Cora

Nos 120 anos de seu nascimento, biografias reconstituem algumas das "histórias reais" da poetisa goiana

Marlon Maciel
Especial para o Jornal de Brasília


Alguns dos mitos e mistérios a respeito da personalidade por trás do pseudônimo da poetisa goiana Cora Coralina (1889–1985) não foram totalmente esclarecidos. Mas parte deles ganham novas visões na ocasião de seus 120 anos de nascimento, completados hoje e comemorados no festival Cora Viva Coralina, aberto ontem na Cidade de Goiás, sua terra natal localizada a 320 km de Brasília.

As biografias existentes sobre a mulher que se tornou uma das principais personagens da história do Estado de Goiás parecem não dar conta do retrato fiel de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nome de batismo de Cora. No entanto, uma série de lançamentos literários buscam lançar luz sobre vida e obra de Coralina e deixar esse panorama menos obscuro – já que, até em seu estado de origem, boa parte do público não conhecia toda sua história.

Um deles é Cora Coralina: Raízes de Aninha (Ideias & Letras), fotobiografia lançada no Museu Casa de Cora Coralina, que passa atualmente por reforma e atualização literária. Por meio de documentos e fatos reais, os autores Clovis Britto e Rita Elisa Seda procuraram reconstituir a vida da menina, moça, dona de casa, mãe, sertaneja, cozinheira, literata e doceira (atributo que ela dizia valorizar mais que o de poetisa). "Na verdade, a sua biografia está sendo escrita agora", diz a presidente da Associação Casa de Cora Coralina, Marlene Vellasco.

Em versos como "Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios / Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada / E fecundada no ventre escuro da terra", do poema A Gleba Me Transfigura, constata-se o teor autobiográfico da criação coralineana. Ao estudar a fundo com Rita Elisa o vasto material, Britto conta que descobriu mais sobre a personalidade da artista pelas "meias confissões" de Coralina ao longo de sua obra, a partir das quais revelaram "as outras metades".

"Ela morou a maior parte do tempo aqui, na antiga Vila Boa de Goiás. E em cada cidade que morou, deixou marcas e ações de muitas dessas outras Coras, como a ambientalista, a política (que subiu em palanque para discursar) e a social (que fundou instituição filantrópica)", argumenta. Entre os volumes existentes, que buscam reconstituir o
passado de Coralina, Britto cita Cora Coragem Cora Poesia, escrita pela filha Vicência Bretãs Tahan (que lança, em breve, um livro-tributo com receitas), com uma biografia
romenceada – "sem determinada preocupação documental e que não pretende ser a verdade", segundo Britto.

Fascinante e mitológica
Paulo Sales, um dos netos que mais conviveu com Coralina, conta que conheceu a avó quando menino, nas visitas que ela fazia a São Paulo para ver a família. Entre as principais lembranças da infância estão as conversas nas quais trocavam ideias, inclusive sobre poesia. "A Cora que vai sair dessa biografia – cujo trabalho de pesquisa profundo se utiliza de documentos que estavam adormecidos – é muito mais rica e fascinante do que imaginávamos. Não se trata daquela velhinha que começou a publicar depois da terceira idade. Aos 17 anos, por exemplo, ela publicava e, alguns anos mais velha, era considerada uma das maiores escritoras goianas", comenta.

O segundo lançamento memorial a Cora, Moinho do Tempo – Estudo Sobre a Obra de Cora Coralina, dos organizadores Clovis Britto, Maria Eugênia Curado e Marlene Vellasco, é um trabalho sobre a vida e a trajetória da poetisa, descendente de bandeirantes. "Ao resgatar outras Coras, a publicação busca suprir uma lacuna existente entre a poetisa e a doceira, ao seguir um novo viés, que traz a interpretação da Cora mitológica", afirma Britto.

4 comentários:

  1. Fala a verdade: não dá vontade de apertá-la até ela EXPLODIR nessa foto?
    #Fofa

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  2. gente, que matéria bonita!
    Muito bem elaborada, querido Marlon!
    Adorei.

    (de vez em qd passo por aqui, mas tratarei de comentar mais vezes)

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  3. De tão fofa, ela tá parecendo uma garotinha de cinco anos nessa foto. Deu vontade de apertar também, Gláu véia.
    E valeu por ter lido, Jamile! Adorei fazer essa matéria. Enfim, recomendo uma excursão dos butequeiros e agregados à Cidade de Goiás. Assim a gente conhece mais de Cora, suas poesias, doces e faz um tour boêmio também. Hehe

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  4. Olha só que boa idéia. ;) Tour boêmio.... não poderia ter nome melhor. =*

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