quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Teatro brasiliense presta seu tributo

A série de ações de resgate em torno do festival que comemora 120 anos da poetisa Cora Coralina incluem apresentações musicais, espetáculos teatrais, recitais, oficinas e roteiro gastronômico com pratos dedicados a ela. Nas artes cênicas, duas trupes de Brasília estão na Cidade de Goiás, onde prestam seu respeito à obra da desbravadora goiana.

Adaptadação do livro Os Meninos Verdes, a peça infantil homônima da Cia Voar de Teatro de Bonecos reflete sobre a aceitação do desconhecido, ao contar a história de
duas plantas que geram pequenas criaturas verdes. A segunda homenagem
brasiliense, Flor de Beco, do grupo Teatro do Inconsciente, tem inspiração nos poemas e contos de Cora e Monteiro Lobato, que retrataram situações e personagens típicos do interior do Brasil.

Além do festival na Cidade de Goiás, que tem entre os destaques um show do cantor e compositor Zeca Baleiro, autor de Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina, em reverência a Coralina, está na agenda das homenagens aos 120 anos a exposição
Cora Coralina Coração do Brasil, a ser aberta no dia 28 de setembro, no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, para onde Cora migrou
após deixar Goiás, em 1911.

A presidente da Associação Casa de Cora Coralina, Marlene Vellasco, chama a atenção para o incentivo à leitura a partir da exposição abrigada pelo museu. "Cora estudou até a 3ª série e teve uma professora. Foi através da leitura que conseguiu publicar seus livros", acrescenta.

Os eventos em comemoração aos 120 anos de nascimento da poetisa e doceira podem ser vistos como forma de valorizar a identidade do povo goiano, a partir do resgate da
vida e obra de um de seus maiores ícones histórico-culturais. "Esse é o primeiro passo para resgatar a história de vida de outros escritores, não tão celebrados, e que possuem muitos aspectos não conhecidos pelo grande público", observa o organizador biográfico Clovis Britto.

Reconstituição
Segundo Vellasco, a filha Vicência Bretas e o neto Paulo Salles tiveram papel fundamental na disponibilização pública do material reunido a partir de acervos pessoais – caso das certidões de nascimento e de casamento, que estão entre o material inédito. "Abrimos o baú junto à família de Cora", explica a presidente.

Vellasco conta também que Coralina, uma mulher forjada pela dureza da vida, chegava a receber turistas em sua Casa Velha da Ponte, às margens do Rio Vermelho, mas que não gostava que dirigissem a ela certos tipos de perguntas consideradas não pertinentes (um dos motivos de ser relacionada por alguns à imagem de uma senhora "sem educação"). "Na verdade, era uma mulher que tinha um temperamento forte. Era muito decidida. Teve uma vida difícil. Era muito realista", conta a presidente que, por volta de seus cinco anos de idade, estabeleceu contato pessoal com a doceira que gostava, em particular, de jovens e crianças, sobre os quais dizia passarem para si uma energia positiva.

A presidente garante que as pessoas que visitam diariamente o Museu Casa de Cora Coralina sabem quem ela foi e procuram conhecer a fundo sua obra. "É emocionante acompanhar as pessoas que chegam à casa. De crianças a idosos, muitos chegam aqui para visitar ‘a casa da Cora’ – e sabem quem ela é. A maioria compra livros depois", conta.



Ela revela que algumas pessoas choram "e se realizam" dentro da casa, tomadas pelo sentimento de desprendimento que o ambiente pobre e suas ricas poesias inspiram. E avisa aos que não conhecem o lugar rústico e imaginam encontrar lá um imponente museu: "A riqueza da casa está na literatura, na poesia. A grandiosidade do museu está na simplicidade, na xícara quebrada, no pratinho no qual ela comia".

Para Clovis Britto, colaborador das duas publicações recentes, que também participa como palestrante da mesa-redonda "Dentro e Fora de Cora – A Natureza em Coralina, amanhã, a atualidade da obra da goiana reside no fato de Coralina reescrever a história oficial a partir da poesia, segundo ângulos como o marginal (se identificava com crianças abandonadas e prostitutas, por exemplo) ou o da juventude (ao se perguntar, por exemplo: "Será que sou velha?"). "Seu trabalho é muito atual também quando fala da importância do novo, das novas ideias. Por trás de suas metáforas, Cora Coralina nos traz ensinamentos", salienta.

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