domingo, 5 de setembro de 2010

Entrevista - Segunda parte

Bregović: "O sucesso do meu grupo de rock foi muito grande exatamente porque minha música sempre foi inspirada pela música tradicional e pela inevitável influência cigana" (foto de Stephanie Berger)

Quantas pessoas compõem a Orquestra Para casamentos e Funerais? Qual formação (reduzida ou completa) virá ao Brasil? Farão show de algum álbum específico e também tocarão trilhas sonoras?
Devo ir com minha orquestra, com 19 músicos no palco: um sexteto de vozes masculinas, um quarteto de cordas, mais meus solistas – cinco músicos de sopro, duas vozes búlgaras, um cantor/baterista e eu. Estou muito feliz por estar indo com a formação grande da orquestra porque me dá a oportunidade de apresentar uma variedade maior de músicas. Você ouvirá canções de meu último CD, “Alkohol”; peças da minha ópera “Karmen com um Final Feliz” e o álbum anterior “Contos & Canções de Casamentos e Funerais”, além de algumas velhas favoritas… Mas também devo executar algumas partes de minha liturgia laica, “Meu Coração Tornou-se Tolerante”, e da nova peça “Margot, Memórias de uma Rainha Infeliz”.

Da extinta banda Bijelo Dugme, que misturava rock e música regional, você levou a guitarra para a "Orquestra para Casamentos e Funerais". Você ainda aprecia rock, ouve rock, compõe rock, toca rock?
Eu era o guitarrista principal e – sobretudo – compositor da minha banda Bjelo Dugme. A orquestra com a qual toco minhas músicas agora é a Orquestra para Casamentos e Funerais. Sempre me impressionei muito com a música tradicional. Aos 15 anos, toquei música tradicional como profissional. O sucesso do meu grupo de rock foi muito grande exatamente porque minha música sempre foi inspirada pela música tradicional e pela inevitável influência cigana. Assim, tenho feito praticamente a mesma coisa por toda minha vida. Mas quando eu era mais novo, acreditava que minha música tinha que estar envolvida na vestimenta ocidental que tanto impressionou a juventude dos países comunistas da Europa Oriental. De certo modo, pode-se dizer que sempre toquei a mesma música. Só que antes, eu usava fraldas e agora uso minhas roupas comuns.

Quantas vezes já tocou no Brasil?
GB: Fizemos três apresentações em novembro de 1999, na bela Sala São Paulo, e uma apresentação no Festival Porto Alegre em Cena, em setembro de 2001. Desta vez, não iremos a São Paulo (há planos para janeiro de 2011), mas faremos um concerto em Brasília, no festival Cena Contemporânea, no dia 5 de setembro, e dois shows no Festival Porto Alegre em Cena, dias 8 e 9 de setembro.

Você disse certa vez que a Iugoslávia é a interseção de vários mundos: ortodoxo, católico, muçulmano. Assim como o lugar onde nasceu, sua música é uma espécie de interseção entre mundos diferentes. Como definiria sua música?
A Iugoslávia era um país meio “Frankenstein” – composto de várias partes que às vezes não se encaixavam muito bem. Minha música é, certamente, meio Frankenstein também. Porque ela está sob influência de elementos que, em outro lugar, seria impossível misturar. A Iugoslávia como um país político está perdido para nós, mas permaneceu dentro de cada um como um ente emocional, como um órgão rudimentar que sobrevive à mutação das espécies. Eu diria que minha música é parte desse ente emocional, então, é difícil encontrar uma casa na ex-Iugoslávia que não tenha algum dos meus discos.

Ainda produz trilhas para filmes? Como nasce uma trilha (para um filme de Kusturica, por exemplo)?
Sinceramente, não me considero um bom compositor para filmes. Nasci muito tarde para ter a oportunidade de trabalhar com cinema no tempo em que ainda se considerava esta a grande arte do século 20 e quando compositores – de Stravinsky ao Philip Grass – realmente fizeram música para filmes. Tive sorte, entretanto, de trabalhar com alguns diretores que fizeram filmes com essa ilusão. Mas nos dias de hoje, um filme é só um produto. E como qualquer produto, tudo o que ele precisa é de clichês. Então, posso colocar três ou quatro filmes na minha biografia, mas hoje tenho uma intensa sensação de estar perdendo tempo quando trabalho para filmes.

Quando compus minha primeira trilha, para Vida Cigana, eu era provavelmente a maior estrela de rock do meu país. E fiz aquilo por amizade ao Kusturica. Aquela música foi usada para os filmes, mas nunca foi escrita segundo o método que compositores usam para compor para filmes, o método da ilustração – este existiu independentemente. Hoje, toco minha música da maneira que é escrita originalmente, antes de ter sido adaptada para o cinema. Assim, as imagens não estão organicamente ligadas àquela música.


Duo com a cantora polonesa Kayah, no clipe de “Prawy Do Lewego”: o som que contagia, a dança que embriaga, a bebida que celebra

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