quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um filme-verdade sobre a fossa

A melhor distribuidora de filmes indie do momento, a Fox Searchlight (para citar alguns que aprecio: Apenas uma vez, Pequena Miss Sunshine, Quem quer ser um milionário? e Terra de sonhos), entrega mais um exemplar irresistível.

É (500) Dias com ela ((500) Days of Summer) - apresentado recentemente aos brasileiros-cariocas no Festival do Rio -, um dramedy construído à maneira de Amnésia, no qual um sujeito mezzo cool, mezzo loser, Tom Hansen, se apaixona por uma cativante jovem de enormes olhos azuis, Summer Finn. E ela - que não acredita em amor, paixão, alma gêmea e todas essas coisas - não.

A princípio, a simplicidade da história, que não traz nada de muito original às comédias dramáticas ditas indie, pode enganar os desavisados - ou seja, aqueles que nem ao menos se deram ao trabalho de assistir ao trailer. O roteiro bem amarrado e criativo da dupla Scott Nustadter/Michael H. Weber se utiliza de uma narrativa não linear, na qual os eventos envolvendo o casal Tom/Summer são mostrados de forma desorganizada, deliciosamente desorganizada. Os 500 dias de amor, desamor, carícias e brigas aparecem na tela sem compromisso com a ordem cronológica dos fatos. Tal dinamismo também é visto no direção das cenas, costuradas pelo novato diretor Marc Webb. O ritmo musical do filme não é à toa. Webb vem da escola de videoclipes.

O visual vívido, enérgico concebido pela diretora de arte, Laura Fox, também é protagonista num filme em que os dois atores principais, Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel, estão em absoluto estado de graça. A cena do elevador, em que ambos confidenciam o gosto por The Smiths (foto: Divulgação), o amasso na sala de xerox, a sequência musical em que Tom, um graduado em arquitetura mas escritor de cartões, vai para o trabalho com um enorme sorriso no rosto depois da primeira noite com Summer (esqueci de dizer, ela é assistente do chefe de Tom)... Enfim, são cenas e mais cenas com atuações honestas e sinceras, que servem à uma história cheia de sensibilidade - em contrapartida, o elenco de apoio é fraquíssimo, coisa rara em dramedies.

No fim, (500) diz o que poucos romances, sejam eles indies ou não, ousam dizer: nem sempre é possível amar e ser amado, e a vida deve continuar.

E o filme explicita isso com tanto charme, clareza e energia que saí dele parcialmente destruído, parcialmente esperançoso.

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