sexta-feira, 19 de junho de 2009

O segundo ato do teatro-esporte



Companhias teatrais apostam cada vez mais em peças sem roteiro ou textos decorados, onde quem manda é o público

Os mesmos atores, o mesmo nome, a mesma idéia — mas nunca o mesmo espetáculo. Assim é o chamado teatro do improviso, ou game-show, um modelo teatral que quebra a estrutura dramática convencional ao colocar o público na função mais importante da peça: a de diretor. Derivado do teatro-esporte, técnica desenvolvida pelo dramaturgo e diretor Keith Johnstone no final dos anos 60, cada espetáculo é, literalmente, uma partida. Divididos em dois times, os atores competem usando apenas a improvisação durante dois tempos, com 45 minutos de duração cada. Cabe à platéia decidir quais situações serão interpretadas e escolher o time que se saiu melhor em cada prova.

Graças a ferramentas como o YouTube, Orkut e Twitter, além do programa televisivo Whose line is it anyway?, sucesso nos Estados Unidos e Inglaterra, as representações improvisadas voltaram aos palcos. Em Brasília, o teatro esporte começou em um bar, com os atores Edson Duavy e Fernando Booyou realizando cenas sugeridas pelos clientes. A ambientação do botequim foi adaptada ao teatro, dando origem ao espetáculo Qual o seu pedido?, representado pela companhia Anônimos da Silva. Além de Edson e Fernando, Daniel Villas Boas, Lucas Moll, Saulo Pinheiro e Leônidas Fontes – protagonista do vídeo O herói Leônidas Fontes, com mais de 400 mil visualizações no YouTube – integram o Anônimos.

A distância do eixo Rio-São Paulo ajudou o grupo a criar um estilo próprio. “Começamos a inventar coisas diferentes, mais focadas na cultura pop”, explica Duavy. Para ele, o sucesso das peças deve-se à identificação imediata do público com os temas abordados. “É um teatro para ouvir as pessoas. O público se sente especial”, acredita. Elemento-chave para o sucesso do espetáculo, o entrosamento entre os atores é essencial na escolha do grupo. “Ás vezes, um quer dar uma ideia e outro quer dar outra, mas não bate. A gente treina bastante para ter esse pensamento conjunto”, diz Daniel Villas Boas. “É o que a gente chama de jogar junto”, completa Lucas Moll, provando que o entendimento não fica restrito aos palcos.

O modelo dos espetáculos não varia, mas as companhias procuram modos de se destacarem uma das outras. O sucesso dos mais de 70 vídeos disponibilizados no YouTube do espetáculo “Os Improváveis”, da companhia Barbixas de Humor, renderam ao grupo um quadro no programa Quinta Categoria, da MTV. Já o grupo Zenas Emprovisadas (ZÉ) aposta em nomes famosos para chamar a atenção do público, como Marcelo Adnet e Fernando Caruso, conhecido por suas participações nos programas globais Zorra Total e Os Normais.

A união da linguagem do palhaço com o ambiente de uma partida de futebol foi a alternativa escolhida pelo grupo paulista Jogando no Quintal para incrementar o jogo de improvisação. "Nos outros espetáculos, você acaba vendo só a virtuose da improvisação em si”, justifica César Gouvêa, um dos criadores da companhia. “O palhaço acaba sendo um diferencial”. Para César, integrante do Doutores da Alegria há seis anos e palhaço há dez, a volta de peças baseadas na improvisação se deve a uma necessidade do próprio público. “As pessoas precisavam de uma coisa nova, de um teatro vivo, onde você vê as cenas sendo construídas na hora e a fragilidade sendo muito evidente”, acredita. “O público quer entrar dentro da peça e do ator, virar cúmplice”.


Companhia de teatro Jogando no Quintal: a linguagem do clown como diferencial

Com mais de 12 anos de experiência na técnica batizada de clown pessoal (ou palhaço pessoal), o artista e professor João Porto explica que o gênero escolhido pelo Jogando no Quintal também se caracteriza pelo uso da improvisação — que, ao contrário do que prega o senso comum, exige treinamento. “O ator desenvolve suas habilidades”, diz. “O que ele mostra não é improvisado, é altamente dominado. Não pode ser solto”. Para João, o mais importante é entender a diferença entre o teatro improvisado, onde os atores não possuem técnica ou conhecimentos cênicos e, por isso, não sabem o que vão fazer, e o teatro do improviso, que “é aquele em que o artista trabalha bastante, domina as cenas, o conteúdo e só improvisa os momentos dessa composição”.

2 comentários:

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  2. Muito legal,uma ideia ótima, barra qualquer roteiro.Vejam Os Improváveis, eles são ótimos.

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