quarta-feira, 15 de abril de 2009

Essa Fome...

Ficou mais fácil ser guloso. Baixou de quatro para uma fatia de bolo de chocolate devorado por dia para que a gulodice fosse considerada. Essa estatística abstrata pode ser constatada por qualquer observador mais desconfiado. Se emagrecer é a psicose em massa da atualidade, engordar é a neurose um tanto medonha.
Escutar mais sobre dietas infalíveis que sobre receitas de apetitosos quitutes é uma realidade incontestável. Perder peso é a meta de crianças a idosos cercada por várias alegações. O excesso dele faz sim mal à saúde e é verdade que a população está crescendo para os lados. Adjacente a isso, a magreza extrema tem sido a busca árdua da outra parcela do povo já considerada dentro das medidas. Gordurinhas demonstram tantos malefícios quanto os ossos à mostra, mas pelo jeito esse entendimento ainda não foi alcançado.
Lá se vão as carnudas, agora vêm as Tops peso pena. Observem as ‘celebridades’, depois de uma sumida, voltam mais magras do que já eram e trajando modelitos top de linha. A moda, cheia de laços, cintos, listras e volumes só é feita para corpos não esculturais, ou seja, os mais retos possíveis. Que as coleções ditam o que vestir, acessórios, maquiagem, cortes e cores de cabelo, já é sabido, mas que também ditam formatos de corpo, é novidade.
Longe de mim querer culpar modelos pela insanidade alheia (ou não, né), mas é verdade que as menininhas e mulheres andam se inspirando nelas para transformarem seus ambientes, em passarelas, e a elas, em top models. Todas querem ser admiradas, singularizadas e desejadas, seja na rua, nas escolas, boates ou, como era de se esperar, na Internet.
Com o acesso a câmeras digitais e um espaço na rede para divulgarem fotos, as meninas vivem a ilusão da fama. Nas fotos postadas em sites como “flogs” ou Orkut, estão elas, garotinhas suas roupas transadas, cabelos lisos e poses de caras e bocas variadas. Abaixo de cada imagem comentários de meninos e meninas igualmente “modelizadas”. Daí então o gostinho artificial da fama que substitui o sabor do chocolate.
A atenção intensiva para o corpo é uma característica herdada da década passada. Atenção esta promovida por quem olha e por quem mostra; e tanto "olhar" quanto "mostrar" são os verbos que sintetizam bem as ações plásticas desse tempo meramente estético. O que atrai é a embalagem, os títulos, as cores, o supérfluo e imediato; a primeira impressão. Detalhes, essência, diferenças, idéias, enfim, o que requer mais tempo de contemplação para ser reconhecido, vem sendo abominado pela grande maioria das pessoas que também acabam se tornando apenas um corpo.
Uma coisa leva à outra dentro desse grande sistema que rege a vida em sociedade. Então, para alcançar toda essa abstração plástica provinda sabe-se lá de onde (talvez do nada, é, talvez desse niilismo), renunciam aos sentimentos de prazer, como o sabor, e se entregam a outros, como o medo de ser e de crescer... Seja em carne ou mente.

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