quinta-feira, 26 de março de 2009

Entrevista: Cibelle

Tropical punk imprevisível


Cibelle traz a Brasília sua mistura musical que se utiliza de brinquedos e instrumentos inusitados. Em entrevista, a cantora fala sobre Brasil, Londres e seu mundo de experimentações

Socrates Mitsios
Artista multimídia, Cibelle se compara a uma criança curiosa ao fazer experimentações em seus trabalhos gráficos e musicais












Marlon Maciel
Colaboração para o Jornal de Brasília

Radicada em Londres há quase sete anos, a multiinstrumentista, artista gráfica e produtora Cibelle tem mostrado na Europa e em outros países mundo afora o que é que a paulista tem. A cantora e compositora nascida em São Paulo aproveita a temporada no Brasil para se apresentar na capital federal.

Ela abre amanhã a sequência do projeto Belas 2, que apresenta cantoras brasileiras de destaque na cena nacional e internacional. Até maio, o público da cidade também terá a oportunidade de apreciar os trabalhos de Silvia Machete, Nina Becker, Mariana Aydar, Marina de La Riva e Teresa Cristina.

Com brinquedos e instrumentos inusitados, Cibelle leva sua mistura ao Espaço Brasil Telecom. Numa apresentação imprevisível e guiada pelo espírito do improviso, ela apresenta músicas de seus dois primeiros discos, “Cibelle” e “The dried shine of electric leaves”, e composições do seu novo disco (de título provisório “Sonja Khalecallon y Los Stroboscopious Luminous”), que deve ser finalizado em maio.

Para o show em Brasília, a cantora conta com três integrantes da banda de apoio Cidadão Instigado: Fernando Catatau (voz, guitarra e teclado), Rian Batista (baixo e vocal) e Clayton Martim (bateria acústica e eletrônica). Ontem, ela havia acabado de sair de um ensaio em um estúdio de São Paulo quando concedeu entrevista por telefone, na qual falou sobre Brasil, Londres e suas experimentações.


Marlon Maciel – É sua primeira vez em Brasília?
Cibelle –
Para tocar é a primeira vez. Mas já fui visitar também.

Mora em Londres há quanto tempo?
Há quase sete anos.

Como é a sua relação com a cidade e qual a influência que ela exerce sobre a sua música?
Eu adoro morar lá. Eu levo uma vida meio que de “formiguinha” e de “cobrinha”, que é a forma que eu uso para conseguir explicar melhor para os meus amigos. É uma cidade cheia de buracos culturais. Você acha que está no underground mas debaixo dele tem mais underground ainda. Tem muita coisa acontecendo. E a hora que você decide falar “ah, cansei de Londres e vou embora”, em geral você descobre uma outra portinha de um outro universo. Aí você pensa: “Não, preciso ficar e dar uma sacada nisso”. Eu gosto porque tem pouco sensacionalismo para as coisas em geral. As pessoas põem as coisas um tom abaixo. Então fica menos “Uau!”. Tem menos fator “Uau!” nas coisas.

Elas relativizam mais, né?
É. Relativizam mais tudo. As pessoas são mais conscientes da diversidade de tudo, de qualquer sentido da vida: música, arte, comportamento. Para qualquer nível de existência eles são conscientes da diversidade. E já na cultura inglesa existe a idéia do excêntrico. Faz parte da cultura. Então não tem aquele cara “estranhão”. Por exemplo, se for para alguém fazer caricaturas sobre tipos que se conhece na cultura inglesa: vão botar o cara magrelo e alto, o careca, baixinho e gordinho e o excêntrico – que é o malucão com terno de tweed, barba estranha e que cria 18 cachorros.

Apesar de estar em outro país há tanto tempo, você carrega alguma coisa da sua formação musical que teve aqui no Brasil? Faz questão de ter sempre por perto suas fontes de música brasileira?
Lógico. Mas não é assim tão racional. Eu tenho os discos que eu gosto e eu ouço as bandas dos meus amigos. Eu vou ouvir os discos dos meus amigos de agora e os discos mais antigos que eu gosto. Mas eu gosto muito de “garage”, rock anos 60... No momento, ouço muito Roberto Carlos daquela época. Mas não só de coisa brasileira. Ouço Rita Pavoni. Agora estou com uma fonte de rock´n´roll do Camboja, algumas coisas assim. Mas em relação às coisas brasileiras... Eu cresci aqui, então fico por dentro. E eu dou graças a Deus que eu nasci aqui e cresci aqui. Porque é só por isso que eu acho que eu faço música do jeito que eu faço. O brasileiro já nasceu da mistura. Ninguém veio gerado. A gente já cresce incorporando outras coisas. Dos meus amigos que estão tocando e compondo, não temos medo de tocar e ficar parecendo tal banda. Na hora de compor, por exemplo, não vou parar e falar: “Ai, isso parece que com aquela banda”. Não tenho esse medo. A gente sabe que tudo que se absorve depois fica com a sua cara porque foi você quem absorveu. E misturado com tudo o que você tem dentro, sai do seu jeito. De vez em quando eu reparo os meus amigos ingleses ou europeus de outros lugares e, às vezes, vejo que eles param muito para dizer: “Ah não, já fizeram isso! O outro já faz assim!”, e acabam se tolhendo de novas oportunidades de expressão.

O Tropicalismo é algo do qual você bebe. Em seu perfil no MySpace, refere-se a si mesma, entre outros termos, como "Tropical punk (...)". Queria saber se você se considera uma “neotropicalista” por mesclar manifestações da música brasileira a inovações estéticas.
Não. Eu sou tropical porque eu sou daqui. E punk porque eu sou não-conformista. Vou fazer do meu jeito e não vou me conformar com as coisas. E sou antropofagista no último. Eu quero que me comam e quero comer meus amigos. E como todo mundo. E todo mundo me come [Risos].

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