quinta-feira, 26 de março de 2009

Entrevista: Cibelle – Parte 2

Socrates Mitsios
Cibelle: “Eu sou artista e mexo com as coisas. Ou é um pedaço de papel, uma tesoura e uma cola, ou é um sampler, uma guitarra e a voz. Essa é a minha relação com a música. É mais uma tinta”









Marlon Maciel – Qual é o seu objetivo ao experimentar? Por exemplo, em um show, em um disco ou em qualquer outro trabalho.
Cibelle –
É mais forte do que eu. Eu sou meio criancinha curiosa. Começo a mexer nas coisas e a fuçar. E eu já tentei tocar música super “caretex” a exemplo de “vamos fazer uma balada e tocá-la assim”. Não dá certo porque eu não consigo. Eu boto outro instrumento no meio. Pego um instrumento que não é pra tocar daquele jeito, toco diferente, enfio na música. É mais forte do que eu. Não é que eu queira fazer uma coisa assim específica, às vezes. Sou curiosa, é isso. E eu fico fuçando e aí a música sai o que sai. Ou eu faço laboratório com a minha cabeça. Fico inventando 500 histórias e universos onde as coisas, as cores e as texturas seriam de certa maneira. Depois começam a nascer de forma sonora pra mim. E eu começo a buscar esse universo no som. Por exemplo, eu estou encafifada com “clichê”, “erro” e “feio”. Então tem uma música, por exemplo, na qual eu coloco todos os clichês possíveis do mundo só pra ver o que acontece. No disco novo, estou botando um monte de frases vazias que são encontradas em músicas pop, como “Dança comigo!”, “Pega em mim!” [Risos]. Tudo quanto é música que eu possa colocar alguma coisa assim, estou colocando.

Gostaria de saber como você enxerga a música que você faz hoje. O que ela significa para você? Por que ela é importante para você?
Para mim ela é mais uma forma de expressão meio que inevitável. Não é que eu escolhi fazer isso. Acabou acontecendo assim e eu não consigo sair disso. E eu me expresso com outras formas de arte também, como colagem, instalação. Eu colaboro com o coletivo avaf. Estava até com eles na última Bienal e fiz uma instalação também. Mas a música, ela é inevitável. E eu acho engraçado porque às vezes eu não me sinto compositora. Me sinto mais produtora e performer das coisas. E eu vejo meus amigos que são músicos mesmo, que escrevem o tempo inteiro e que me fazem sentir: “Não, não é isso o que eu faço”. Eu sou artista e mexo com as coisas. Ou é um pedaço de papel, uma tesoura e uma cola, ou é um sampler, uma guitarra e a voz. Essa é a minha relação com a música. É mais uma tinta.

Cassia Sabatini
“Gosto muito de 'garage', rock anos 60...". No momento, a cantora ouve a fase sessentista de Roberto Carlos.



Você toca pela primeira vez em Brasília na sequência de um projeto que apresenta cantoras brasileiras de destaque na cena nacional e internacional, como Mariana Aydar, Silvia Machete, Marina De La Riva e Nina Becker. Gostaria de saber se você aprecia alguma dessas novas cantoras.
Eu gosto bastante da Nina. Acho que ela tem uma voz doce, doce, doce... Linda! Eu vi um videozinho dela cantando só com o violão. Que delícia! Eu gosto de gente que canta sem ser “cantorona”, sabe? Que canta porque canta e porque é lindo cantar, sem botar muita impostação em cima. A não ser que se tenha um motivo por trás. Porque eu faço isso para caramba às vezes. Eu meto um vozeirão e eu tiro sarro com a minha cara mesmo [Risos]. Eu me divirto pencas fazendo isso. E, sei lá, dentro de mim tem uma cantora de jazz dos anos 40 escondida no meu joelho [Risos].

Ao todo, você toca quantos instrumentos no show?
Toco minha pedaleira toda, sampler, guitarra... E, às vezes, a guitarra vira meio que um baixo. Toco percussão, uns brinquedinhos, uns tecladinhos. Tudo meio no mais ou menos [Risos].

O terceiro disco já tem título? Gostaria que falasse sobre o novo trabalho.
Eu andei falando que ele se chama “Sonja Khalecallon Y Los Stroboscopious Luminous”. Mas eu não sei se vai ser esse nome. Não é definitivo. É porque foi na época da Sonja [Khalecallon]. É que eu tenho uma coisa com codinomes que eu nunca deixei muito pública: é entre eu e os meus amigos e quando eu faço arte. E eu tava assinando um monte de arte como Sonja Khalecallon na época em que comecei a fazer o disco. Esse nome é uma brincadeira com um monte de coisa. É um misto de Frida Kahlo e Sophie Calle e que soa como “canecalon”. E a Sonja é a guru do meu amigo Rick Castro [artista plástico], que é uma guru que ensina sobre desapego e movimento de energia. Então, fazer a Sonja é jogar coisas que não prestam fora. E ao mesmo tempo, para mim, a minha Sonja Khalecallon, quando eu fico fazendo arte nesse espírito, eu mexo muito com o feio, com coisas que as pessoas consideram meio que de mau gosto. Trabalho com cabelo no meio da colagem. Fico buscando o erro. Me entrego. É não ter medo de errar, porque aí, com certeza, as coisas saem pelo menos meio bonitas. E Los Stroboscopious Luminous é o nome para a banda universal que toca comigo. São todos os meus amigos que têm suas bandas, seus trabalhos próprios e que tocam comigo quando querem.


A cantora reinventa “Refazenda”, de Gilberto Gil, no programa Som Brasil

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