domingo, 3 de maio de 2009

Não se deixe enganar pela sinopse (e pela foto)

Porque A Garota Ideal (Lars and the Real Girl) pode te surpreender. Digo isso porque, sinceramente, a sinopse do filme dá uma desanimada: um homem tímido compra uma boneca pela Internet, e ele a trata como uma pessoa real, como sua namorada (foto: Divulgação). A bizarrice do argumento, porém, torna-se algo aceitável quando o roteiro começa a mostrar quem o protagonista, Lars Lindstrom (Ryan Gosling), realmente é: um moço solitário, introvertido, delicado e incapaz de estabelecer relações afetivas com pessoais (reais).

Por isso, ele cria uma realidade que é só sua: adquire uma réplica de mulher da Internet, personalizada por ele, e a namora, porém, de uma maneira bastante tímida e pura. O comportamento de Lars é intimamente transformado. Ele se torna mais falante, comunicativo e sociável. Gus, (Paul Schneider) irmão, e Karin (Emily Mortimer), cunhada, orientados por Dagmar (Patricia Clarkson), psicóloga, tratam Bianca, a boneca-namorada de Lars, como uma pessoa real. E todos na cidade entram no jogo.

A psicóloga se faz de médica e finge tratar Bianca. No entanto, nas conversas entre Lars e Dagmar, enquanto Bianca "repousa" após a consulta, a psicóloga desnuda a origem do delírio (ou delusão) do jovem solitário e compreende que o comportamento estranho de Lars pode ser, na verdade, uma tentativa de sair do isolamento. Texto e direção, entretanto, não se adiantam rumo à construção de um filme psicológico. Lars, Bianca e todos ao seu redor fazem de A Garota Ideal uma tragicomédia sensível, simples e cheia de pureza.

Ryan Gosling, indicado a inúmeros prêmios importantes, inclusive o Globo de Ouro, confere ao personagem uma delicadeza surpreendente, logo nos primeiros minutos de filme. Nancy Oliver, a roteirista indicada ao Oscar 2008 pela originalidade do texto (ela também escreveu e co-produziu episódios da já cult série da HBO A Sete Palmos), e Craig Gillespie, o diretor, dão ao filme a solidez de um drama e uma leveza sutilmente cômica.

A Garota Ideal segue na esteira de sucesso de outras boas tragicomédias recentes (ou dramedy, como dizem alguns críticos norte-americanos), como Sideways - Entre umas e Outras e Pequena Miss Sunshine (isso sem mencionar Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, que é muito mais do que uma boa tragicomédia), e é um exemplo de que o gênero comédia produzido nos Estados Unidos tem passado por mudanças radicais. De lá, ora aparecem tragicomédias ou comédias tristes, como estas citadas anteriormente, ora surgem filmes de humor subversivo, como O Virgem de 40 anos, já clássico desta nova onda cômica, Superbad - É Hoje, talvez a melhor comédia teen já feita, e o escrachado Trovão Tropical. O interessante é que as boas comédias atuais, mais ou menos enquadradas nesses dois subgêneros, são de longa duração, com mais de uma hora e meia, e febres de locadora. Mas ainda dá tempo de ver A Garota Ideal no cinema!

Em terras brasileiras, desde 1º de maio.

3 comentários:

  1. Parece legal...agora só falta eu achar ele pra ver:P

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  2. Gente, mas diz ai... Ela parece mesmo de verdade! heheh.

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  3. Muito bonitinho. A melhor cena é a dele ressuscitando o ursinho de pelúcia haha.

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