sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sentidos aguçados

Evinny Araújo
especial para a Revista Asmip
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Uma exposição de arte. Logo, pensamos em ver de longe quadros e esculturas. O acesso dos cegos à cultura foi uma questão que sempre instigou a artista plástica Cristina Portella. Pensando nisso, ela inovou com a exposição Cores do Silêncio, em que é possível tocar as obras e sentir suas texturas. Nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, ela mora em Brasília há 25 anos. Após décadas de trabalhos voltados para as artes, Cristina viu a possibilidade de tornar sua arte acessível aos deficientes visuais. A artista contou um pouco sobre sua trajetória.

EA: Qual o principal diferencial de sua exposição?

Cristina Portella: O grande diferencial está no tradicional aviso “Proibido tocar”, tão comum em museus e galerias. Ele é substituído por um convite irrecusável: “Por favor, toque”. Imaginei e criei a exposição Cores do Silêncio para deficientes visuais. Além disso, os monitores da exposição são cegos. Quando a exposição é visitada, as pessoas podem ter a experiênciade ser guiadas por um deles, ou de colocar venda nos olhos. Todos os monitores são contratados a preço de mercado, tanto no Brasil, quanto no exterior.

Como surgiu a idéia de uma exposição tátil, voltada para cegos?

Durante décadas de trabalhos voltados para as artes plásticas e dentro do papel social que um artista desempenha, pensei: como a arte pode ser acessível culturalmente? Qual a linguagem da arte e seus novos códigos visuais? Como o público deficiente visual poderá ter contato com meus quadros? A vontade é, sem dúvida, a qualidade mais importante do ser humano. Dormi com a idéia de tornar minha arte acessível e acordei com a exposição pronta! Foi assim que surgiram minhas exposições sensoriais.

Sua exposição percorreu diversos países, como foi a receptividade do público?

A exposição percorreu as principais capitais brasileiras e países como o Japão, Bélgica, França, Suécia e Estados Unidos entre outros. Foi bastante visitada e teve boa acolhida pela crítica. Os monitores da Associação Nacional de Cegos da Suíça foram brilhantes como guias. Para minha surpresa, os diretores de vários museus e instituições culturais ficavam impressionados com a inovação de meu trabalho. Trago na bagagem de volta um convite para expor na ONU, em Genebra, em julho de 2009 e uma enorme vontade de continuar a mostrar para o mundo que a falta de visão não é um obstáculo. Arte é emoção e sentimento.

Qual a inspiração para as obras de Cores do Silêncio?

Ao elaborar Cores do Silêncio, tive a Amazônia como fonte inspiradora e o fascinante vôo migratório das borboletas. Com isso, tive a liberdade de trabalhar em quadros representando as regiões brasileiras, permitindo que a arte sensorial e as mais variadas técnicas fossem adequadas a cada tela. Trouxe da Amazônia folhas, pedras, aromas e sementes, criando o cenário educativo.
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Foto: Evinny Araújo

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