quarta-feira, 1 de abril de 2009

A guerra como você nunca viu

De Israel, vem o mais incrível filme sobre guerra dos últimos tempos: Valsa com Bashir (Valse avec Bachir). (- E as premiações?; - Arre, vá ver no IMDb!.) É uma autobiografia-documentário-animação contada de forma sincera, tocante e original pelo cineasta Ari Folman (foto: Divulgação). Atormentado por um sonho ambientado no conflito entre Israel e Líbano, ocorrido em 1982, no qual Folman participou como soldado das tropas israelenses que invadiram Beirute, o cineasta procura a ajuda de companheiros ex-combatentes para tentar encaixar as peças de uma experiência pessoal de que ele é incapaz de se lembrar com consistência e clareza. Ou seja, não se trata apenas da visão particular de um cineasta sobre um conflito, como Oliver Stone em Platoon, Coppola em Apocalypse Now ou Kubrick em Nascido para Matar. Aqui, o cineasta está intimamente ligado com a realidade dos fatos, busca depoimentos de amigos para reconstruí-la e a reproduz por meio de um filme documental muito particular, autoral, mas que já possui notável importância histórica.

À época, Folman presenciou o que seria considerado, mais tarde, um dos episódios mais tenebrosos e chocantes da história do Oriente Médio: o massacre de Sabra e Chatila. Sabra e Chatila eram dois campos de refugiados palestinos, localizados no centro de Beirute. O presidente eleito Bashir Gemayel, 34 anos, era um dos principais representantes do comando da milícia cristã Falange, apoiada por Israel. Antes de tomar posse, Gemayel foi assassinado em um atentado terrorista. E os falangitas atribuíram aos palestinos a morte do presidente. Resultado: membros da Falange invadiram o campo de refugiados e fizeram entre 700 e 3 mil vítimas. Mulheres, idosos e crianças. E o exército israelense, que ocupava a capital libanesa, foi indiferente. Folman, então jovem soldado de 19 anos, também. O trauma da indiferença passada nunca foi recuperado e, inconscientemente, as memórias da guerra e do massacre ocupavam espaços inacessíveis na mente do cineasta e ex-combatente.

A cada depoimento, o documentário expõe trechos de memória recuperados de Folman: recortes de uma batalha violenta expostos por meio da linguagem do desenho, mas com uma progressão narrativa de documentário. O resultado são imagens incríveis, uma miscelânea de ficção e realidade imersa em um visual inovador e original. Ari Folman, que, solitário, dirige e assina o roteiro, concebe um documentário poderoso, arrepiante, cheio de sensibilidade e marcado pela ânsia de seu autor em expor e entender traumas antigos. Traumas pessoais de um ex-soldado e sociohistóricos de uma nação.

Nos cinemas brasileiros, a partir de 3 de abril. (E olha que desta vez uma distribuidora nacional me surpreendeu, pois o filme, inicialmente, estava previsto para aparecer por aqui só no fim do mês.)

Bem, hehe, eu já vi o filme aqui em casa há mais de um mês... E ainda tenho no pc. Portanto, interessados (e endividados), manifestem-se!
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Eu prometi e menti (e daí?) quando falei que veria Simplesmente Feliz no cinema. Mas esse, agora eu falo sério (!?), quero, preciso ver em tela grande.

Um comentário:

  1. Valsa com Bashir é incrível na telona. Uma narrativa envolvente com final chocante. Documentário em animação causa uma confusão de valores no cérebro; a relidade transvestida de ficção quase engana. Talvez por isso as ultimas cenas toquem fundo com a relidade escancarada no silêncio.

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