sábado, 14 de fevereiro de 2009

Poesia numa hora dessas?

Um estilo diferente e inovador de escrever poemas. Essa é a característica principal do poeta carioca Ricardo Chacal.

O artista começo seu trabalho na Praia de Ipanema, ele distribuía suas poesias escritas inicialmente em um mimeógrafo para os pedestres nas ruas.

Por meio de sua arte, Chacal tenta passar aos leitores representações de sentimentos com situações do cotidiano de maneira irreverente e descontraída, transformando a poesia em uma leitura divertida.

Mais de 13 obras do poeta de gosto popular já foram publicados e rodam o país de mãos em mãos provando que a poesia marginal é lida e que repercute, com um público cada vez maior.

Abaixo uma de suas obras, e um dos meu poemas favoritos de seu livro Belvedere, lançado em 2007.

Número da Paixão

Na corda bamba quero ser teu contrapeso
no número das facas assoviar nos teus ouvidos
no globo da morte quero ser teu copiloto
no vai e vem do trapézio quero ser quem te segura

Quero te acompanhar pelas ruas do rio sorrindo ou chorando
quero me molhar todinho só pra te deixar sequinha nesse temporal
quero te abraçar apaixonado sentir teu coração pulsar
quero te beijar do oiapoque ao chuí, bem te vi

Porque eu sei que teus cabelos são tempestades que me alucinam
que despencarei cada vez que subir nos teus andaimes que me esfaquearei
transtornado com suas sutis insinuações sobre o tempo

Que me transmutarei em nêspera cada vez que me disseres: hasta luego, luz del fuego
que vagarei sem esperanças quando não mais fizeres parte dos meus próximos capítulos
que capitularei enfim, com a cabeça espatifada nos escombros do meu próprio coração.


Ricardo Chacal (De BELVEDERE (1971-2007). Rio de Janeiro: 7 LETRAS; São Paulo: COSACNAIFY, 2007)

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