quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fanzines: A independente arte de pulbicar

A necessidade de troca de informações entre aficionados de uma determinada arte gerou os primeiros fanzines na década de 30, nos Estados Unidos. Logo a iniciativa de publicação amadora meramente de caráter informativo passou também a configurar um espaço de reflexão e crítica dos acontecimentos.

Editar fanzines requer muito interesse, tempo e dinheiro. A maior parte dos entusiastas lucram pouco ou nada com eles. Geralmente essas publicações independentes contam com um pequeno número de pessoas na equipe que acabam por fazer de tudo um pouco. Por não se limitarem a uma estrutura padrão de publicação, muitos fanzines são aperiódicos e variam o número de páginas e diagramação.

Nos primeiros anos do surgimento dos fanzines, se destacaram temas como poesia, ficção científica e histórias em quadrinhos. Porém, quando a década de 70 chega com seu movimento punk, o fanzine torna-se difusor de idéias políticas tidas como subversivas e um porta-voz dos fãs de bandas undergrounds. E no underground, no submundo, que os fanzines se fizeram presentes pela década de 80 até nossos dias de século XXI. Zines (como são chamados) se espelham em assuntos ignorados pela grande mídia por não atingirem um grande número de interessados, por isso mesmo não são encontrados em bancas. Ninguém vai atrás das publicações, pois elas chegam até o leitor sempre pelas mãos de quem as produz ou apóia.

Zines sobre rock, por exemplo, são distribuídos em shows deste estilo; zines que retratam a cena artística de uma cidade, naturalmente serão disponibilizados em galerias ou qualquer evento relacionado; sendo assim, circulam entre pessoas do meio ao qual pertencem fortalecendo a integração delas.

Para sentirmos melhor a força dos fanzines que contribui para manter um movimento cultural na ativa, imaginemos o seguinte caso: João muda-se de São Paulo, onde adora ir a eventos artísticos, para Brasília. Ao assistir tv, descobre que há concerto da orquestra sinfônica do Teatro Nacional todas as terças à noite gratuitamente. Solitário, ele vai prestigiar. No sagão de entrada da sala Villa Lobos recebe alguns panfletos para ler enquanto a fila para entrar não anda. Um faz propaganda de uma loja de instrumentos e livros musicais e outro avisa de um festival de teatro local. Na semana seguinte, ele vai ao referido festival de teatro no espaço da 508 sul onde não mais que 100 pessoas comparecem às apresentações. Ora, convenhamos que se aparece mais alguém não haveria espaço suficiente. Lá recebeu mais panfletos e o Boca de Cena, fanzine brasiliense e, através deles soube de mais eventos de seu interesse. É praticamente uma reação em cadeia. Logo João faz amizade com demais freqüentadores desses eventos e se integra na cena cultural.

Provavelmente, se você não vai a pequenos shows de rock em Brasília, não soube do festival headbanger’s attack onde tocaram oito bandas, sendo cinco de outros estados. Muito menos soube do tradicional festival de thrash metal Caga Sangue na alcova do Conic... Nem se quer sabia de sua tradição. Isso porque se você não participa de eventos roqueiros, não tem acesso ao Zine Oficial, muito menos ao Brasília, Fina Flor do Rock.

Fanzines necessariamente se relacionam com movimentos culturais e suprem a necessidade de divulgação do trabalho de muitos entusiastas. Há quem ame desenhar ou escrever, mas não encontra onde publicar suas criações; há quem está louco para criticar alguma ação social e não sabe onde expor suas idéias; a partir disso surgem as iniciativas de “faça você mesmo”. A grande vantagem da publicação independente é que não é preciso ter “papas na língua”, e isso é importante para a prática da liberdade de expressão. Se grandes jornais não a praticam por inteiro, pequenos fanzines que não têm nada a perder a fazem acontecer.

Independentes e undergrounds, zines não se restringem a tamanho, cor ou caráter. Podem ser inteiramente informativos ou totalmente em quadrinhos. O Fina Flor, por exemplo, se desdobra em três folhas tamanho A4 impressas somente em preto. Praticamente não contém desenhos e traz, além de datas de shows e informações sobre bandas independentes de rock, uma entrevista e pequenos textos reflexivos. Já o Zine Oficial, é um livreto de não mais que 15 centímetros com capa colorida e conteúdo em preto e branco dividido em cerca de 10 páginas. É cheio de fotos, desenhos e trata de um show específico através de uma entrevista e informações sobre as bandas.

Como tudo nessa era, os fanzines já foram parar na internet. Muitos deles existem apenas na rede a quebrar o ritual de distribuição mão a mão. É o caso do fanzine carioca O Diário de César (Uma síntese piegas de uma mente ordinária).

Criado por Rafael Pereira, desenhista, e Luís Augusto, roteirista, O Diário de César são histórias em quadrinhos criadas a partir da construção de personagens pelo roteirista para o jogo de RPG (Role-playing game).

A vontade de desenhar uniu-se à sede de escrever compondo uma vida dentro dos quadrinhos: a vida de César. Ele, acompanhado por Tom, seu melhor e garanhão amigo, Clara, a “menina dos olhos” dele e, por quê não, por sua consciência materializada, vive uma “vida ordinária” de personagem em quadrinhos. O Diário de César é justamente um apanhado de acontecimentos do dia-a-dia do personagem e uma síntese de relacionamentos interpessoais capazes de acontecer também fora dos quadrinhos. César não é super-herói nem o perdedor-mor. É um simples jovem flautista estudante de música que tem um amor platônico e um amigo galã que se mete (e o mete) em enrascadas prováveis ou não.

É claro que nem tudo o que acontece nos quadrinhos de César poderia acontecer na vida de seus leitores, afinal ele é condicionado, com vantagens e desvantagens, à vida consciente de personagem de quadrinhos. Só carrega a responsabilidade de saber disso quando seus companheiros vivem na ignorância. Atualizada com certa periodicidade, a página do Diário passou a receber um bom número de visitas, e estas aumentaram quando seus criadores passaram a divulgá-la mais pela internet em sites especializados.

Ao atingir um bom número de leitores virtuais, os organizadores do Diário resolveram experimentar levá-lo aos eventos de quadrinhos e mangás (quadrinhos japoneses), e, para isso, tornaram o fanzine impresso.

O Diário de César pode ser acessado pelo endereço: http://www.procriar.blog-se.com.br/blog/conteudo/null e sua versão impressa poderá ser requisitada pela página.

POR: MARINA BÁRTHOLO

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