terça-feira, 27 de julho de 2010

Da penumbra para a luz

Com direção do espanhol Borja Ruiz, grupo Kabia apresenta em Brasília dois espetáculos criados sob a sombra da companhia Gaitzerdi Teatro

Cena de “Dizer chuva e que chova”, obra inspirada no imaginário poético do escritor basco Joseba Sarrionaindia (foto: Borja Relaño)

Investigar novas linguagens cênicas é um dos papéis que a companhia espanhola Kabia deve à escola Teatro-Estúdio do mestre russo Constantin Stanislavski (1863-1938), criador do que talvez seja o primeiro laboratório teatral da história, em 1905. Na época, para fazer frente a um aplaudido – porém fossilizado – teatro que tinha como base o naturalismo, Stanislavski fundou uma extensão experimental de seu famoso Teatro de Arte de Moscou. Apesar do fiasco da experiência diante dos espetáculos bem sucedidos da companhia principal (os testes sequer foram apresentados), lançava-se uma das principais características da investigação teatral do século 20: as escolas secundárias como abrigo para trabalhos alternativos ao teatro comercial.

Na penumbra do sucesso da companhia Gaitzerdi Teatro, os atores do Kabia - Espaço de Investigação Dramática, formado em 2006, encontrariam no projeto secundário a intimidade necessária para que criassem suas obras livremente, sem que tivessem a sensação de serem observados ou julgados. É o resultado da ideia de “sombra”, como abrigo para a criação, que o grupo de Bilbao mostra, a partir de 25 de agosto, na programação do Cena Contemporânea 2010 - Festival Internacional de Teatro de Brasília.

Braço experimental da Gaitzerdi – companhia principal dirigida por Kepa Ibarra, criada em 1988 –, o Kabia tem apostado no teatro como resultado da incursão por ambientes em que a experimentação é permitida e levada às últimas consequências. Sem a intenção de emular os grandes artistas, os atores são estimulados a indagar e reeducar-se na arte do teatro. Uma das linhas de atuação propostas pelo espaço, por exemplo, é o constante treinamento do ator, que explora diferentes matérias e linguagens (como acrobacia, clown, biomecânica, antropologia teatral, balé e até canto coral) para ampliar suas capacidades corporais, vocais e mentais.

O grupo espanhol que leva o teatro experimental às últimas consequências em cena de “Dizer chuva e que chova” (foto de Susana Elejalde)

Linguagem experimental
O grupo chega ao país com dois espetáculos dirigidos pelo jovem encenador vanguardista Borja Ruiz, primeiro a receber o Prêmio Internacional Artez Blai de Investigação sobre as Artes Cênicas pelo estudo “A arte do ator no século 20 – Uma viagem teórica e prática pelas vanguardas” (2008), em que compila e compara as teorias da arte da atuação. Ruiz, que também tem no currículo trabalhos como ator para a Gaitzerdi desde 2005 (entre eles o premiado “Otsoko”, de 2008), assina “Dizer chuva e que chova” (2010), obra com livre inspiração no imaginário poético do escritor basco Joseba Sarrionaindia, também conhecido como Sarri. No elenco, Juana Lor, Iosu Florentino, Ane Pikaza, Joseba Uribarri, Karol Benito e Yolanda Bustillo.

Responsável por projetar o nome da companhia que tem renovado a cena teatral com sua linguagem experimental, o espetáculo de estreia do grupo espanhol é outro dos grandes destaques da programação do Cena Contemporânea 2010. Com a intérprete Juana Lor, “Paisagem com Argonautas” tem inspiração num poema do pensador alemão Walter Benjamin, feito a partir de um quadro de Paul Klee, em que um anjo pego pelo vento não pode voltar atrás para desfazer as atrocidades cometidas no mundo. Na peça, o infortunado anjo protagoniza texto homônimo do dramaturgo alemão Heiner Müller sobre os argonautas, lendários heróis gregos que viajaram na mitológica nau Argo em busca do velocino de ouro.

Serviço

Cena Contemporânea 2010 — Festival Internacional de Teatro de Brasília
De 24 de agosto a 5 de setembro, na Praça do Museu Nacional da República e em vários teatros no DF. “Paisagem com Argonautas”: dias 25 e 26 de agosto, às 19h, no Teatro Garagem. “Dizer chuva e que chova”: dias 27 e 28 de agosto, às 21h, e dia 29 de agosto, às 20h, na Sala Martins Penna do Teatro Nacional. Ingressos: R$ 16 e R$ 8 (meia). Informações: 3349-3937. Não recomendado para menores de 14 anos.

2 comentários:

  1. oi, Glaucia
    sou o Armando, do Blog das Perguntas. recebi uma mensagem em q vc reclama do meu sumiço. é q o blog mudou de endereço há meses. se quiser acessá-lo agora, entre em www.armandoantenore.com.br.

    legal tê-la como leitora.

    um beijo
    A

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  2. interessa-me essa coisa da linguagem experimental;)

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