sábado, 25 de julho de 2009

O brega não existe

Sem preconceitos, Reginaldo Rossi canta da mesma forma para todas as classes

Cantor é taxado de brega, mas defende que música boa não tem rótulos


Marlon Maciel
Especial para o Jornal de Brasília

Ao longo de 40 anos de carreira, Reginaldo Rossi tocou tanto em grandes palcos, como o do Canecão, no Rio de Janeiro, quanto em outros menores em cidades do interior, como Santa Maria (DF), onde o cantor se apresenta hoje como uma das principais atrações da 19ª FasSanta, festa de aniversário da cidade localizada a 26 Km de Brasília.

Na última quarta, por exemplo, Reginaldo fez show em uma festa para jornalistas e autoridades políticas numa boate high society de Recife. "Já cantei para ministro e para gari. É tudo igual. Só no Brasil inventaram essa história de brega e chique. Música não tem divisão", comenta a respeito do contraste entre os diferentes tipos de palco e público pelos quais passou.

Você Não Vale Nada Mas eu Gosto de Você é tão boa para algumas pessoas como a Sinfonia n°5 de Beethoven, segundo Reginaldo Rossi. O que um cantor não pode fazer, segundo o próprio Reginaldo, é chegar na periferia e cantar um brega americano sem contextualizar. Ele garante que diz à plateia durante os shows, em especial ao público mais novo, que vai cantar em inglês – e enfatiza: "quem não aprender a falar inglês daqui a alguns anos vai ser considerado analfabeto".

Ainda em sua crítica a respeito de uma hierarquia musical, muitas vezes feita pela mídia para atestar ou detratar a qualidade de artistas, o cantor recifense de 65 anos diz que interpreta Ne Me Quitte Pas com a mesma honra com que declama Beber, Cair e Levantar – já adiantando o repertório assumidamente eclético da apresentação de hoje à noite.

Ele também cita canções de Caetano Veloso como exemplo. Reginaldo supõe que mil pessoas acompanhem Caetano ao cantar Qualquer Coisa, de letra mais elitizada, e que 80 mil entoem um só coro em músicas como Você Não me Ensinou a te Esquecer. "Negro ou branco, todos cantam. O sentimento, que é o que importa, é o mesmo. Todos sentem quando dói o cotovelo ou o chifre", defende.

Momento lindo
Apesar de ter produzido pouco nos últimos anos, Reginaldo garante que o momento da carreira "é ótimo". Ele se queixa apenas de que o processo criativo é ameaçado pela pirataria, que "acabou com a indústria do disco", segundo ele. "O esforço intelectual (do artista) é descaracterizado por bandidos que vão ganhar um fortuna", dispara.

Para o cantor, a internet não representa uma ameaça à venda de discos. Pelo contrário, diz acreditar que ela ajuda a divulgar ainda mais o trabalho artístico. Todo artista gosta de ser popular e que sua obra se espalhe pelo mundo, segundo o compositor de hinos do brega como Garçom. "O problema é que os artistas não são retribuídos. As pessoas baixam e não se preocupam em pagar os direitos autorais, que no fundo, custa pouquinho".

Perguntado se considera que existe uma onda de resgate e de exaltação à música brega por parte de bandas da nova geração (como Del Rey e Sua Mãe), Reginaldo é categórico em seu "não". "Não tem brega nem chique, mas já que rotularam...", volta a lamentar. Ele cita o fato da recente turnê dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos ter todos ingressos esgotados para defender que a velha guarda do brega está à toda. "Ficaram as músicas que ficaram – e essas são as mais românticas", afirma antes de cantar "Quando eu estou aqui / Eu vivo esse momento lindo", techo de Emoções (Roberto e Erasmo Carlos).

Reginaldo Rossi prefere mesmo cantar a dançar. "Não gosto de dançar", dispara ao lembrar da participação no quadro Dança dos Famosos no Domingão do Faustão da TV Globo. O cantor revela que foi escalado de fato por causa das coisas que fala. Segundo ele, alguns jurados chegaram a dizer que para os cantores é mais difícil participar da Dança e justifica que não tinha tempo para ensaiar. "Mas aquilo não é um concurso para se ganhar e virar o primeiro bailarino do Theatro Municipal", ri.

2 comentários:

  1. E viva Reginaldo!
    "Dizem que o seu coração, voa mais que avião, Dizem que o seu amor, só tem gosto de fel, vai trair o marido em plena lua de mel"

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  2. Divertidíssimo ele!!!! Além de descolado... haush

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